domingo, 9 de novembro de 2014

GERATIVISMO: SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA A LINGUÍSTICA

RESUMO
O Este artigo procura mostrar algumas considerações acerca da gramática
gerativa de Noam Chomsky que ao longo da história da linguística vem a consti-
tuir um programa de investigação cientifica, extremamente coerente, e que co-
meça a ser constituído já no século XX, um modo de entender a estrutura da lin-
guagem humana que pode ser contestada.
Chomsky introduz o principio da gramática internalizada que será adota e
desenvolvida por varias tendências, principalmente as que estudam a linguagem
em uso. O falante de posse da linguagem com um número limitado de palavras
mostra seu desempenho por meio da competência, construindo e compreendendo
a totalidade da língua.
O texto também procurar abordar algumas das contribuições que esta gra-
mática traz para a linguística moderna, enfatizando sua maior contribuição que
diz respeito à sintaxe da língua na medida em que estabelece um novo modelo de
análise sintática permitindo analisar constituintes que o modelo tradicional não é
possível.
Palavras-chave: Gramática Gerativa, Expressão de Pensamento, Competência,
Desempenho, Contribuições, Linguística Moderna

INTRODUÇÃO
A gramática gerativa é uma teoria linguística elaborada por
Noam Chomsky e pelos linguistas do Massachusetts Institute of Tech-
nology a partir do final dos anos cinquenta.
Aluno do distribucionalista Zelling Harris, Chomsky (nascido
em 1928) construirá sua teoria em oposição aos princípios do estruturalismo americano. Ele recusa uma gramática de listas, elaborada a
partir de um corpus finito - e, portanto, incompleto - de frases de
uma língua. Segundo ele, o modelo distribucional e o modelo dos
constituintes imediatos da linguística estruturalista descrevem so-
mente as frases realizadas e não podem explicar um grande número
de dados linguísticos como, por exemplo, a ambiguidade os constituintes descontínuos. Para explicar como se criam enunciados, ele preconiza uma teoria que possa descrever e explicar os fatos conhecidos, e predizer fatos ainda não observados. Chomsky definiu uma te-
oria capaz de dar conta da criatividade do sujeito falante e de sua ca-
pacidade de produzir e de compreender frases inéditas.

LINGUAGEM E GRAMÁTICA
A obra de Chomsky “Reflexões sobre a linguagem” data de
1975: conceitua a linguagem numa visão ampla, profundo e signifi-
cativo enquanto um “espelho do espírito”. É um produto da inteli-
gência humana, criada de novo em cada indivíduo por meio de ope-
rações que se encontram muito aquém da vontade ou da consciência.
(Chomsky, 1975, p. 10). Ao criar hipóteses sobre a natureza e o fun-
cionamento da linguagem, Chomsky enfatiza a estrutura, organiza-
ção e uso das línguas naturais. Para ele, a linguagem, especifica à es-
pécie humana, baseia-se na existência de estruturas universais inatas
(como a relação sujeito/predicado) que tornam possível a aquisição
pela criança dos sistemas particulares que são as línguas, o contexto
linguístico ativando essas estruturas inerentes à espécie, que são sub-
jacentes ao funcionamento da linguagem, por assim dizer ser a lin-
guagem essencialmente um sistema de “expressão de pensamento”.
Por isso, uma utilização significativa da linguagem não implica ne-
cessariamente se comunicar ou dizer algo, pode ou expressar ou cla-
rificar apenas os pensamentos, com a intenção de iludir, evitar um si-
lêncio embaraçoso ou para outros fins. (Chomsky, 1975, p. 68)
Assim a gramática para Chomsky será definida como o con-
junto finito de regras que permitem produzir a totalidade dos enunci-
ados gramaticais possíveis de uma dada língua. Ele fundamenta esta
definição na observação da linguagem infantil. A criança não repete,
como um papagaio, as frases que ela ouviu. Ele cria enunciados, que
ela nunca tem escutado, a partir das regras finitas que possui. Por e-
xemplo, a partir de duas frases que ela teria entendido, como “Ma-
mãe está cozinhando / Papai está consertando o carro”, ele poderá
criar “Papai está cozinhando /Mamãe está consertando o carro”.
Por isso, a teoria da linguagem é simplesmente a parte da psi-
cologia humana que estuda um determinado órgão mental – a “lin-
guagem humana” que estimulada por uma experiência adequada e contínua cria uma gramática que gera frases com características for-
mais e semânticas. Desta forma, o indivíduo/criança conhece a lín-
gua gerada por tal gramática. (Chomsky, 1975, p. 43)
Nesta perspectiva, a atuação humana só será compreendida se
levarmos em conta que princípio das capacidades primárias e siste-
mas de predisposições de comportamento implicam o uso de “estru-
turas cognitivas” pelas quais exprimimos sistemas de conhecimento
(inconsciente), crença, esperança, avaliação, julgamento etc.
(Chomsky, 1975, p. 30)
Neste sentido, para Chomsky existe uma gramática universal
(GU) que consiste “num sistema de princípios, condições e regras
que são elementos ou propriedades de todas as línguas humanas, não
por mero acaso, mas por necessidade [...] biológica, não lógica”.
(Chomsky, 1975, p. 28).
O falante “ideal” que fala Chomsky depende da GU como
dispositivo para adquirir certa competência, ou seja, uma estrutura
cognitiva, uma gramática, um conhecimento da língua, mas não para
agir de determinadas maneiras necessariamente. (Chomsky, 1975, p.
239).
Supostamente, pode-se dizer que não existe nenhuma estrutu-
ra semelhante à GU em organismos não-humanos, a capacidade de
utilização livre, adequada e criadora da linguagem como uma ex-
pressão do pensamento é um traço distintivo da espécie humana, ou
seja, somente o ser humano munido de meios fornecidos pela facul-
dade da linguagem é capaz de adquirir e utilizar a linguagem en-
quanto expressão do pensamento. (Chomsky, 1975, p. 47)

COMPETÊNCIA E DESEMPENHO
Com os conceitos desenvolvidos na gramática gerativa,
Chomsky (1965 [1975]) distanciava-se radicalmente do estruturalis-
mo e do behaviorismo das décadas anteriores. Ele mostrou que as
análises sintáticas da frase praticadas até então, eram inadequadas
em vários aspectos, sobretudo porque deixavam de levar em conta a
diferença de níveis da estrutura superficial e profunda. Da estrutura
gramatical. Por exemplo: no nível de superfície, um enunciado como “João está ávido por agradar” e outro como “João é fácil de agradar”
podem ser analisadas de maneira idêntica, mas do ponto de vista de
seu significado subjacente (nível da estrutura profunda), os dois e-
nunciados divergem, pois no primeiro João quer agradar alguém e no
segundo alguém está envolvido em agradar João. Assim, é na estru-
tura profunda que se resolvem os problemas semânticos de interpre-
tação dos enunciados, nela estão todos os aspectos da significação
necessários para desfazer ambiguidades, por exemplo, além de fe-
nômenos fonológicos com consequências semânticas como a focali-
zação, as pressuposições e os performativos. Por isso os gerativistas
passam a considerar o nível da estrutura profunda. Tendo agora que
considerar a questão da significação no enunciado, Chomsky traça
uma distinção fundamental (semelhante à dicotomia língua/fala se
Saussure) entre o conhecimento que as pessoas têm da língua e o uso
efetivo desta língua em situações reais de fala. Ao conhecimento da
língua chamou de “competência” e ao uso como “desempenho”. Para
Chomsky uma gramática é descritivamente adequada a partir do con-
junto das gramáticas possíveis, criando o que denominou de Teoria
Geral, assim uma teoria é explicitamente adequada quando reproduz
o comportamento da criança que adquire linguagem. A criança frente
aos dados linguísticos brutos seleciona uma das gramáticas dentre as
possíveis. Com efeito, para atingir adequação explicita, os mecanis-
mos teóricos disponíveis na teoria do componente inato da gramática
(Teoria Geral) devem ser restritos, o que possibilita à criança de
forma rápida selecionar a gramática adequada aos dados de que dis-
põe. (Borges Neto, 2004, p. 115).
Chomsky distingue então o conhecimento das regras, isto é, a
competência e o emprego, a aplicação das regras (desempenho). O
trabalho do linguista consiste, então, em descrever e competência. A
gramática que reúne o conjunto das regras e das instruções explícitas
que permitem gerar, isto é, enumerar, todas as frases gramaticais
possíveis de uma língua é dita gerativa.
Isto porque para Chomsky, as línguas são sistemas biológicos
que os homens usam para falar sobre o mundo, ou seja, a representa-
ção mental que tem do mundo para poder descrevê-lo, referir se a e-
le, comunicar-se com os outros, articular pensamentos etc. Chomsky
cria então dois sistemas: sistema conceptual-intencional (meio ex-
pressivo) e o sistema articulatório-perceptual (de natureza sensório-motora, capaz de permitir a produção e a recepção dos sons que
constituem as expressões linguísticas). Ambos devem estar numa in-
terface: a linguagem humana deve ser capaz de contatar os dois sis-
temas que por sua vez são independentes. Com base no pressuposto
forte da realidade psicológica dos mecanismos computacional que já
vinham norteando as análises gerativistas, passam agora a critérios
de condição sobre as estruturas que serão sustentadas pelo desempe-
nho, pela pragmática e pelo uso que o falante faz. Este desempenho
envolveria os dois sistemas para que possa ter uma estrutura bem
formada gramaticalmente. Então, a garantia agora de uma boa for-
mação gramatical em enunciados irá depender do grau de satisfação
das condições impostas pelos sistemas externos, ou seja, será mais
aceitável, bem formada e gramatical a estrutura que melhor satisfazer
as condições de produção/recepção fonética e de significação.
Assim, um dos limites do gerativismo está justamente na pre-
ocupação de Chomsky com a competência e considerar o desempe-
nho, que de certa forma, já vinha fazendo parte dos estudos linguísti-
cos anteriores em sua dependência de amostras (corpora) de fala (em
forma de coleção de fitas gravadas). Tais amostras certamente eram
inadequadas, pois só podiam oferecer uma fração ínfima (mínima)
dos enunciados que é possível numa língua e também por conter
mudanças de planos e "erros" de desempenho, uma vez que os falan-
tes usavam suas competências muito além das limitações de qualquer
corpus, pois eram capazes de criar e reconhecer enunciados inéditos
e de identificar erros de desempenho comunicativo. Como se vê, o
objetivo gerativista era a descrição das regras que governavam a es-
trutura desta competência, considerando as estruturas bem formadas.
(sentido não se submete a espaços limitados – o sentido é deslizante).
As propostas de Chomsky visavam descobrir as realidades
mentais subjacentes ao modo como as pessoas usam a língua e lin-
guagem. Assim, a competência é vista como um aspecto da nossa
capacidade psicológica geral (a linguística na perspectiva mentalis-
ta). Uma visão que contrastava com o behaviorismo na primeira me-
tade de século XX já se defendia que a linguística não deveria se li-
mitar à descrição da competência. Assim, em longo prazo havia a i-
déia de oferecer uma gramática capaz de avaliar a adequação de dife-
rentes níveis de competência, indo além dos estudos das línguas in-
dividuais para chegar á natureza da linguagem humana como um todo pela descoberta dos universais linguísticos.
Chomsky sintetiza essa idéia no livro Conhecimento de Lin-
guagem (Knoweledge of Language) (1986) procurando mostrar que
os indivíduos, mesmo com contatos limitados com o mundo são ca-
pazes de conhecer tanto e reproduzir pela linguagem este mundo,
considerando o sistema abstrato e lógico ou ainda com define os es-
truturalistas como “a totalidade dos enunciados que podem ser feitos
numa comunidade linguística”. Assim, daria uma contribuição para
nosso entendimento da natureza da mente humana, pois pelo estudo
da faculdade humana da linguagem, deveria ser possível mostrar
como uma pessoa constrói um sistema de conhecimento a partir da
experiência diária, dando assim, um passo na direção do problema.

CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA GERATIVA
PARA A LINGUÍSTICA MODERNA
A teoria gerativa, como as demais teorias, trouxe também suas
contribuições na medida em que percebeu que o estruturalismo ame-
ricano baseado na teoria behaviorista do estímulo /resposta era um
equívoco. Ao adotar um outro tipo de psicologia – a gestalt –
Chomsky, de certa forma, dá um passo importante quando reconhece
no falante, (embora idealizado) uma competência. Com isso ele de-
volve ao falante o poder de interpretação, compreensão e elaboração
de seus próprios enunciados. Nesse sentido, a gramática de uma lín-
gua não se reduz a uma listagem de enunciados hipoteticamente co-
nhecidos pelo falante para que ele compreenda a língua. Nesse senti-
do, Chomsky introduz o principio da gramática internalizada que se-
rá adota e desenvolvida por varias tendências, principalmente as que
estudam a linguagem em uso. Chomsky parte do pressuposto de que
de posse de um número limitado de palavras o falante, revela seu
“desempenho” por meio da “competência”, construindo e compreen-
dendo a totalidade da língua. A sua teoria mesmo não dando conta de
resolver os problemas de ambiguidade da língua, traz algumas con-
tribuições, principalmente para a linguística cognitiva, para a teoria
dos espaços mentais, mas sua maior contribuição diz respeito à sin-
taxe da língua na medida em que estabelece um novo modelo de aná-
lise sintática que permite analisar alguns constituintes que o modelo
tradicional não conseguia. Com efeito, Chomsky irá romper com o estruturalismo americano em relação à teoria behaviorista, uma vez
que nada nos leva a supor que existe uma teoria da aprendizagem,
não haverá, certamente, razões para crer que existe uma “teoria do
comportamento”. (Chomsky, 1975, p. 26).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Finalmente, poderíamos afirmar que a linguística cognitiva
tem avançado muito nas ultimas décadas, pois, temos hoje, no mun-
do grandes expoentes desta vertente linguística, neste sentido,
Chomsky é um de seus precursores. É evidente que seu trabalho pro-
cura estabelecer relações da linguagem com as questões genética da
espécie humana, o que caracteriza certa preferência pelas teorias da
evolução. Para ele a linguagem carrega murmúrios biológicos, na
medida em que na transposição genética de caracteres amplia e defi-
ne as estruturas cognitivas dos indivíduos na espécie humana, por is-
so, o individuo torna-se possuidor de um potencial sobre o qual se
instaura a competência linguística.
De modo que sua contribuição foi de grande importância para
o aprofundamento dos estudos nesta área do conhecimento. Na ver-
dade, Chomsky estava mais voltado às questões lógicas da língua,
sua intenção era demonstrar que o indivíduo já nasce dotado de es-
truturas mentais que sustentam a competência para o desempenho
linguístico. A sua grande sacada mesmo é a idéia de uma Gramática
Universal a partir da qual, por meio das estruturas cognitivas, os in-
divíduos concebem a estrutura da língua (qualquer lingua), desenca-
deando o processo de aquisição da linguagem.
Os estudos da linguagem por este prisma ainda parecem enfo-
car do inatismo, embora outras vertentes trilhem outros caminhos.
Na verdade a obra de Chomsky, embora tenha sido rotulada de GE-
RATIVISTA, não se afastou do ESTRUTURALISMO, haja vista o estudo
das estruturas de superfície e Estruturas profundas, ou seja, estudo da
sintaxe e estudo da semântica das línguas. Considerando também o
estudo das estruturas cognitivas do indivíduo o que contribuiu so-
bremaneira para o aprofundamento dos estudos da linguagem na dé-
cada de 1990 e 2000, levando em conta não apenas as questões de
cognição, mas como se articula o processo interacional nos diálogos que se operam entre os indivíduos.

BIBLIOGRAFIA
BORGES NETO, J. Empreendimento Gerativo. In: MUSSALIM, F.
e BENTES, A. C. (Orgs.). Introdução à Linguística: fundamentos
epistemológicos. São Paulo: Cortez, 2004, V. 3.
CHOMSKY, M. Reflexões sobre a linguagem. São Paulo: Cultrix,
1975.
––––––. Aspectos da teoria da sintaxe. Coimbra: Armênia Amado,
1975.
––––––. Aspects of a theory syntax. Cambridge: MIT Press, 1959.
––––––. Knowledge of language: its nature, origin and use. Londres,
Praeger, 1986.

Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos
Extraído de: Revista Philologus, Ano 15, N° 43. Rio de Janeiro: CiFEFiL, jan./abr.2009

Grupo
Hudson Tayllor - C238BE-8
Daiane Chaves - C34CBA-0
Crislayne Pereira - C390BJ-5
Tharine Lillena - C3185B - 2
Agnes Regina - C344II - 6
TEORIA GERATIVA E AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM

Este artigo tem como objetivo explorar as relações e pressupostos assumidos em relação à aquisição da linguagem dentro de uma abordagem gerativista. Embora o programa, desde sua primeira versão, tenha se preocupado com a questão, é somente a partir da abordagem princípios-e-parâmetros que a teoria pôde fornecer respostas tanto a nível conceitual como em relação ao aspecto do desenvolvimento no processo de aquisição da linguagem.

Veja mais:
http://www2.uefs.br/sitientibus/pdf/13/teoria_gerativa_e_aquisicao_da_linguagem.pdf

Diego Henrique S. A. Soares - RA C37DBB-1
Laura Borghetti Martins - RA C268IA-2
Siméia Daiana Pereira - RA C123DB-6
Vanessa A. Branco Francisco - RA C029AC-6
Vinícius Bruno Ribeiro - RA C146EI

Linguística Gerativa

A lingüística gerativa – ou gerativismo, ou ainda gramática gerativa – é uma corrente de estudos da ciência da linguagem que teve início nos Estados Unidos, no final da década de 50, a partir dos trabalhos do lingüista Noam Chomsky, professor do Instituto de Tecnologia de Massachussets, o MIT. Considera-se o ano de 1957 a data do nascimento da lingüística gerativa, ano em que Chomsky publicou seu primeiro livro, Estruturas sintáticas. Trata-se, portanto, de uma linha de pesquisa lingüística que já possui 50 anos de plena atividade e produtividade. Ao longo desse meio século, o gerativismo passou por diversas modificações e reformulações, que refletem a preocupação dos pesquisadores dessa corrente em elaborar um modelo teórico formal, inspirado na matemática, capaz de descrever e explicar abstratamente o que é e como funciona a linguagem humana.

A lingüística gerativa foi inicialmente formulada como uma espécie de resposta e rejeição ao modelo behaviorista de descrição dos fatos da linguagem, modelo esse que foi dominante na lingüística e nas ciências de uma maneira geral durante toda a primeira metade do século XX. Para os behavioristas, dentre os quais se destacava o linguista norte-americano Leonard Bloomfield, a linguagem humana era interpretada como um condicionamento social, uma resposta que o organismo humano produzia mediante os estímulos que recebia da interação social. Essa resposta, a partir da repetição constante e mecânica, seria convertida em hábitos, que caracterizariam o comportamento linguístico de um falante. Vejamos, por exemplo, como Bloomfield descrevia a maneira pela qual uma criança aprendia a falar uma língua:

“Cada criança que nasce num grupo social adquire hábitos de fala e de resposta nos primeiros anos de sua vida. (...) Sob estimulação variada, a criança repete sons vocais. (...) Alguém, por exemplo, a mãe, produz, na presença da criança, um som que se assemelha a uma das sílabas de seu balbucio. Por exemplo, ela diz doll [boneca]. Quando esses sons chegam aos ouvidos da criança, seu hábito entra em jogo e ela produz a sílaba de balbucio mais próxima, da. Dizemos que nesse momento a criança começa a imitar. (...) A visão e o manuseio da boneca e a audição e a produção da palavra doll (isto é, da) ocorrem repetidas vezes em conjunto, até que a criança forma um hábito. (...) Ela tem agora o uso de uma palavra.” (Bloomfield, 1933: 29-30)

Para um behaviorista, a linguagem humana é exatamente o que descreveu Bloomfield: um fenômeno externo ao indivíduo, um sistema de hábitos, gerado como resposta a estímulos e fixado pela repetição. Numa resenha feita em 1959 sobre o livro Verbal behavior (Comportamento verbal), escrito por B. F. Skinner, professor dafamosa universidade de Harvard e principal teórico do behaviorismo, Chomsky apresentou uma radical e impiedosa crítica à visão comportamentalista da linguagem sustentada pelos behavioristas. Na resenha, Chomsky chamou a atenção para o fato de um indivíduo humano sempre agir criativamente no uso da linguagem, isto é, a todo momento, os seres humanos estão construindo frases novas e inéditas, ou seja, jamais ditas antes pelo próprio falante que as produziu ou por qualquer outro indivíduo. 

Por isso, todos os falantes são criativos, desde os analfabetos até os autores dos clássicos da literatura, já que todos criam infinitamente frases novas, das mais simples e despretensiosas às mais elaboradas e eruditas. Pensemos, por exemplo, na frase que acabamos de produzir aqui mesmo neste texto. É muito provável que ela nunca tenha sido proferida exatamente da maneira como o fizemos, bem como jamais será dita novamente da mesma forma. Chomsky chegou a afirmar, inclusive, que a criatividade é o principal aspecto caracterizador do comportamento lingüístico humano, aquilo que mais fundamentalmente distingue a linguagem humana dos sistemas de comunicação animal.

De acordo com esse pensamento de Chomsky, se considerarmos a criatividade como a principal característica da linguagem humana, então devemos abandonar o modelo teórico e metodológico do behaviorismo, já que nele não há espaço para eventos criativos, pois, para lingüistas como Bloomfield, o comportamento lingüístico de um indivíduo deve ser interpretado como uma resposta completamente previsível a partir de um dado estímulo, tal como é possível prever que um cão começará a latir ao ouvir, por exemplo, o som de uma campainha, caso tenha sido treinado para isso. Se o behaviorismo deve ser abandonado, como de fato foi, após a publicação da resenha de Chomsky, o gerativismo se apresenta como um modelo capaz de superá-lo e substituí-lo.

Com as suas idéias, Chomsky revitalizou a concepção racionalista dos estudos da linguagem, em oposição franca e direta à concepção empiricista de Skinner, Bloomfield e demais estruturalistas norte-americanos e europeus. Para Chomsky, a capacidade humana de falar e entender uma língua (pelo menos), isto é, o comportamento lingüístico dos indivíduos, deve ser compreendido como o resultado de um dispositivo inato, uma capacidade genética e, portanto, interna ao organismo humano (e não completamente determinada pelo mundo exterior, como diziam os behavioristas), a qual deve estar fincada na biologia do cérebro/mente da espécie e é destinada a constituir a competência lingüística de um falante. Essa disposição inata para a competência lingüística é o que ficou conhecido como Faculdade da Linguagem.

Há, de fato, muitas evidências de que a linguagem seja uma faculdade natural à espécie humana. Pensemos, por exemplo, que, excluindo-se os casos patológicos graves, todos os indivíduos humanos, de todas as raças, em qualquer condição social, em todas as regiões do planeta e em todos os tempos da história foram e são capazes de manifestar, ao cabo de alguns anos de vida e sem receber instrução explícita para tanto, uma competência lingüística – a capacidade natural e inconsciente de produzir e entender frases. É notável que nenhum outro ser do planeta, a não ser o próprio homem, é capaz de dominar naturalmente um sistema de linguagem tão complexo como uma língua natural, mesmo após muitos anos de treinamento. E nem mesmo o mais potente e arrojado dos computadores modernos é capaz de reproduzir artificialmente os aspectos mais elementares do comportamento lingüístico de uma criança de menos de 3 anos de idade, como criar ou compreender uma frase completamente nova.

Não é por outra razão que a Faculdade da Linguagem é a característica mental mais marcante que separa os humanos dos demais primatas superiores e do resto do mundo natural. O papel do gerativismo, no seio da lingüística, é constituir um modelo teórico capaz de descrever e explicar a natureza e o funcionamento dessa Faculdade, o que significa procurar compreender um dos aspectos mais importantes da mente humana, como afirmou o próprio Chomsky:

“Uma das razões para estudar a linguagem (exatamente a razão
gerativista) – e para mim, pessoalmente, a mais premente delas
– é a possibilidade instigante de ver a linguagem como um
“espelho do espírito”, como diz a expressão tradicional. Com
isto não quero apenas dizer que os conceitos expressados e as
distinções desenvolvidas no uso normal da linguagem nos
revelam os modelos do pensamento e o universo do “senso
comum” construídos pela mente humana. Mais instigante
ainda, pelo menos para mim, é a possibilidade de descobrir,
através do estudo da linguagem, princípios abstratos que
governam sua estrutura e uso, princípios que são universais por
necessidade biológica e não por simples acidente histórico, e
que decorrem de características mentais da espécie humana”
(Chomsky, 1980: 09)

Com o gerativismo, as línguas deixam de ser interpretadas como um comportamento socialmente condicionado e passam a ser analisadas como uma faculdade mental natural. A morada da linguagem passa a ser a mente humana.

Retirado de: 

http://www.professores.uff.br/eduardo/artigos_arquivos/manualdelinguistica_2008.pdf

Nomes e RA:

Simone Corrêa Rodrigues: B11031-7
Marcos Vinicius Piccinini: B984JF-4
Renata Vieira da Silva: C23FBI-5

Gerativismo Chomskyniano – A faculdade da linguagem


Noam Avram Chomsky nasceu na Filadélfia, Pensilvânia em 7 de Dezembro de 1928. Começou a estudar cedo no Oak Lane Country Day School e no Central High School. Continuou seus estudos na Universidade da Pensilvânia onde estudou lingüística, matemática, e filosofia. Em 1955, tornou-se Ph. D. na Universidade da Pensilvânia, entretanto, a maioria das suas pesquisas que o levou a este grau foi feita na Universidade de Harvard entre 1951 e 1955. Após receber a sua graduação, Chomsky passou a lecionar no Massachusetts Instituto of Technology, e conquistou a Ferrari P. Ward Chair of Modern Language and Linguistics.
Esta resenha tem por finalidade a reflexão critica sobre a Lingüística Gerativa (Gerativismo e/ou Gramática Gerativa), desenvolvida por Noam Chomsky. O autor supracitado começou os estudos da ciência da linguagem no prisma da teoria inatista da linguagem, no qual o autor desenvolveu os estudos dividindo-os sob vários aspectos, a Hipótese gerativo-transformacional, cognitivismo construtivista e a gramática universal.
          Ao levanta a hipótese gerativo-transformacional, Chomsky defende que o ser humano traz consigo uma gramática própria, isto é, vem com o individuo e ganha forma a partir do seu desenvolvimento. Chomsky observa que a fala de um adulto serve como base para uma criança, pois esta começa assimilar dando estrutura, para conceituação e criação (criativa) das suas próprias regras. Dessa forma quando a criança internaliza os moldes (fala) da mãe, por exemplo, isso não significa que houve imitação, todavia  a internalização serviu como modelo de regras para aquisição da sua própria linguagem.
           Chomsky defende que a criança tem um dispositivo de aprendizagem no qual ele dá o nome de DAL (Dispositivo de Aquisição da Linguagem) que é ativado e processa-se a partir de sentenças, que resulta o IMPUT, a fala da criança esta exposta ao meio social que a mesma é inserida, por sua vez a criança em contato com a língua seleciona as regras que funcionarão para a mesma, e desativará as que não venham  a funcionar. Com essa proposta a criança tem uma gramática universal, inata e que contém as regras de todas as línguas.
           Os princípios e parâmetros mudam a concepção de uma gramática universal, devido à gramática universal ser formada por princípios “leis/regras” invariáveis, e que são aplicadas do mesmo modo para todas as línguas. Dessa forma os parâmetros ou “leis”, se valem dos valores da língua podendo prevalecer ou  variar dentro da própria língua, dependendo da opção da criança dentro do IMPUT (obedecendo ao valor que o parâmetro possa ter).
             Percebe-se que o ponto relativo do cognitismo construtivista tem uma contradição explicita ao behaviorismo defendido por Skiner, Skiner defendia que a linguagem era um conjunto de comportamento, Chomsky retruca esta linha de estudo de Skiner, por acreditar que o inatismo vem de uma herança genética, própria do ser humano, pois este nasce com uma gramática e a desenvolve no decorrer do tempo (tanto as crianças como adultos não alfabetizados). Para Chomsky, não havia possibilidade da criança aprender por imitação, como behaviorismo coloca, Chomsky suscita uma reflexão de uma gramática perfeita, e isso para Chomsky é possível para criança, devido a sua criatividade e aprendizado diário e a formulação estrutural das sentenças, frases, para o seu cotidiano. O autor aborda de forma critica a tradição behaviorista, e as bases da concepção social da linguagem. Segundo Chomsky:
 Por isso, todos os falantes são criativos, desde os analfabetos até os autores dos clássicos da literatura, já que todos criam infinitamente frases novas, das mais simples e despretensiosas às mais elaboradas e eruditas. Pensemos, por exemplo, na frase que acabamos de produzir aqui mesmo neste texto. É muito provável que ela nunca tenha sido proferida exatamente da maneira como o fizemos, bem como jamais será dita novamente da mesma forma. Chomsky chegou a afirmar, inclusive, que a criatividade é o principal aspecto caracterizador do comportamento lingüístico humano, aquilo que mais fundamentalmente distingue a linguagem humana dos sistemas de comunicação animal. (KENEDY, 2008, p.126)
             Chomsky considera a criatividade como algo que caracteriza a linguagem do homem, saindo do modelo behaviorista uma vez que este modelo (behaviorista), não abre espaço à criatividade da mente humana, ou seja, não acredita no pontecial do homem para produzir, e sim para imitar. O lingüista Bloomfield interpreta o comportamento lingüístico do individuo, como uma resposta previsível, a partir dos estímulos é possível se ter uma resposta, por exemplo, o latir de um cão ao ouvir, o som da campainha, caso tenha sido treinado para este.
             Isto posto, observa-se que Chomsky inova, trazendo uma perspectiva metodológica dos estudos científicos da Lingüística. Com essa ação, percebe-se que a Sintaxe é privilegiada. Conforme Lyons:

 [...] tudo que pode ser descrito esta no limite na forma, o que é equivale a dizer, na perspectiva de Chomsky, tudo que é relevante é de algum modo, Sintaxe (LYONS, 1990, p.219)
           
Na verdade, Chomsky propõe uma reformulação em seu modelo, persistindo em defender a Sintaxe como uma ciência autônoma capaz de analisar as suas estruturas desde as simples as profundas levando em conta o enunciado dentro do contexto.
             Portanto, Chomsky, se vale da sua teoria para comprovar que o ser humano tem sua capacidade lingüística, que esta inscrita no seu código genético. Assim a criança necessita de ajuda para o desenvolvimento da gramática especifica que é a sua gramática nativa. O inatismo é uma tendência que acredita na existência da mente e que todo e qualquer aprendizado é inato e não uma simples imitação, como dizem algumas tendências.


 Referências:

AZEREDO, José Carlos de. Iniciação a Sintaxe do Português. 6 ed. RJ. Jorge Zahar, 2004, p.23-26
LYONS, John. Linguagem e Lingüística: uma introdução. Tradução de Marilda Winkle Averbug. 1999, p. 219
PAVEAU, Marie Anne. As grandes correntes da lingüística: da gramática comparada à pragmática. São Paulo: clara luz, 2006, p. 167-171.
KENEDY, E. Gerativismo. In: Mario Eduardo toscano Martelotta.(Org). Manual de lingüística. São Paulo: contexto, 2008, v.1, p.127-140








Fernanda Dresdi Palomo C17870-5

Marcos Patrick Viegas da Silva C067J-2

Patrícia da Silva Martins C02741-3

Análise Gerativista

GERATIVISMO:
SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA A LINGUÍSTICA

RESUMO
Este artigo procura mostrar algumas considerações acerca da gramática
gerativa de Noam Chomsky que ao longo da história da linguística vem a constituir
um programa de investigação cientifica, extremamente coerente, e que começa
a ser constituído já no século XX, um modo de entender a estrutura da linguagem
humana que pode ser contestada.
Chomsky introduz o principio da gramática internalizada que será adota e
desenvolvida por varias tendências, principalmente as que estudam a linguagem
em uso. O falante de posse da linguagem com um número limitado de palavras
mostra seu desempenho por meio da competência, construindo e compreendendo
a totalidade da língua.
O texto também procurar abordar algumas das contribuições que esta gramática
traz para a linguística moderna, enfatizando sua maior contribuição que
diz respeito à sintaxe da língua na medida em que estabelece um novo modelo de
análise sintática permitindo analisar constituintes que o modelo tradicional não é
possível.
Palavras-chave: Gramática Gerativa, Expressão de Pensamento, Competência,
Desempenho, Contribuições, Linguística Moderna

INTRODUÇÃO
A gramática gerativa é uma teoria linguística elaborada por
Noam Chomsky e pelos linguistas do Massachusetts Institute of Technology
a partir do final dos anos cinquenta.
Aluno do distribucionalista Zelling Harris, Chomsky (nascido
em 1928) construirá sua teoria em oposição aos princípios do estruturalismo
americano. Ele recusa uma gramática de listas, elaborada a
partir de um corpus finito - e, portanto, incompleto - de frases de
uma língua. Segundo ele, o modelo distribucional e o modelo dos
constituintes imediatos da linguística estruturalista descrevem somente
as frases realizadas e não podem explicar um grande número
de dados linguísticos como, por exemplo, a ambiguidade os constituintes
descontínuos. Para explicar como se criam enunciados, ele preCírculo
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coniza uma teoria que possa descrever e explicar os fatos conhecidos,
e predizer fatos ainda não observados. Chomsky definiu uma teoria
capaz de dar conta da criatividade do sujeito falante e de sua capacidade
de produzir e de compreender frases inéditas.

LINGUAGEM E GRAMÁTICA
A obra de Chomsky “Reflexões sobre a linguagem” data de
1975: conceitua a linguagem numa visão ampla, profundo e significativo
enquanto um “espelho do espírito”. É um produto da inteligência
humana, criada de novo em cada indivíduo por meio de operações
que se encontram muito aquém da vontade ou da consciência.
(Chomsky, 1975, p. 10). Ao criar hipóteses sobre a natureza e o funcionamento
da linguagem, Chomsky enfatiza a estrutura, organização
e uso das línguas naturais. Para ele, a linguagem, especifica à espécie
humana, baseia-se na existência de estruturas universais inatas
(como a relação sujeito/predicado) que tornam possível a aquisição
pela criança dos sistemas particulares que são as línguas, o contexto
linguístico ativando essas estruturas inerentes à espécie, que são subjacentes
ao funcionamento da linguagem, por assim dizer ser a linguagem
essencialmente um sistema de “expressão de pensamento”.
Por isso, uma utilização significativa da linguagem não implica necessariamente
se comunicar ou dizer algo, pode ou expressar ou clarificar
apenas os pensamentos, com a intenção de iludir, evitar um silêncio
embaraçoso ou para outros fins. (Chomsky, 1975, p. 68)
Assim a gramática para Chomsky será definida como o conjunto
finito de regras que permitem produzir a totalidade dos enunciados
gramaticais possíveis de uma dada língua. Ele fundamenta esta
definição na observação da linguagem infantil. A criança não repete,
como um papagaio, as frases que ela ouviu. Ele cria enunciados, que
ela nunca tem escutado, a partir das regras finitas que possui. Por exemplo,
a partir de duas frases que ela teria entendido, como “Mamãe
está cozinhando / Papai está consertando o carro”, ele poderá
criar “Papai está cozinhando /Mamãe está consertando o carro”.
Por isso, a teoria da linguagem é simplesmente a parte da psicologia
humana que estuda um determinado órgão mental – a “linguagem
humana” que estimulada por uma experiência adequada e
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contínua cria uma gramática que gera frases com características formais
e semânticas. Desta forma, o indivíduo/criança conhece a língua
gerada por tal gramática. (Chomsky, 1975, p. 43)
Nesta perspectiva, a atuação humana só será compreendida se
levarmos em conta que princípio das capacidades primárias e sistemas
de predisposições de comportamento implicam o uso de “estruturas
cognitivas” pelas quais exprimimos sistemas de conhecimento
(inconsciente), crença, esperança, avaliação, julgamento etc.
(Chomsky, 1975, p. 30)
Neste sentido, para Chomsky existe uma gramática universal
(GU) que consiste “num sistema de princípios, condições e regras
que são elementos ou propriedades de todas as línguas humanas, não
por mero acaso, mas por necessidade [...] biológica, não lógica”.
(Chomsky, 1975, p. 28).
O falante “ideal” que fala Chomsky depende da GU como
dispositivo para adquirir certa competência, ou seja, uma estrutura
cognitiva, uma gramática, um conhecimento da língua, mas não para
agir de determinadas maneiras necessariamente. (Chomsky, 1975, p.
239).
Supostamente, pode-se dizer que não existe nenhuma estrutura
semelhante à GU em organismos não-humanos, a capacidade de
utilização livre, adequada e criadora da linguagem como uma expressão
do pensamento é um traço distintivo da espécie humana, ou
seja, somente o ser humano munido de meios fornecidos pela faculdade
da linguagem é capaz de adquirir e utilizar a linguagem enquanto
expressão do pensamento. (Chomsky, 1975, p. 47)

COMPETÊNCIA E DESEMPENHO
Com os conceitos desenvolvidos na gramática gerativa,
Chomsky (1965 [1975]) distanciava-se radicalmente do estruturalismo
e do behaviorismo das décadas anteriores. Ele mostrou que as
análises sintáticas da frase praticadas até então, eram inadequadas
em vários aspectos, sobretudo porque deixavam de levar em conta a
diferença de níveis da estrutura superficial e profunda. Da estrutura
gramatical. Por exemplo: no nível de superfície, um enunciado como
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“João está ávido por agradar” e outro como “João é fácil de agradar”
podem ser analisadas de maneira idêntica, mas do ponto de vista de
seu significado subjacente (nível da estrutura profunda), os dois enunciados
divergem, pois no primeiro João quer agradar alguém e no
segundo alguém está envolvido em agradar João. Assim, é na estrutura
profunda que se resolvem os problemas semânticos de interpretação
dos enunciados, nela estão todos os aspectos da significação
necessários para desfazer ambiguidades, por exemplo, além de fenômenos
fonológicos com consequências semânticas como a focalização,
as pressuposições e os performativos. Por isso os gerativistas
passam a considerar o nível da estrutura profunda. Tendo agora que
considerar a questão da significação no enunciado, Chomsky traça
uma distinção fundamental (semelhante à dicotomia língua/fala se
Saussure) entre o conhecimento que as pessoas têm da língua e o uso
efetivo desta língua em situações reais de fala. Ao conhecimento da
língua chamou de “competência” e ao uso como “desempenho”. Para
Chomsky uma gramática é descritivamente adequada a partir do conjunto
das gramáticas possíveis, criando o que denominou de Teoria
Geral, assim uma teoria é explicitamente adequada quando reproduz
o comportamento da criança que adquire linguagem. A criança frente
aos dados linguísticos brutos seleciona uma das gramáticas dentre as
possíveis. Com efeito, para atingir adequação explicita, os mecanismos
teóricos disponíveis na teoria do componente inato da gramática
(Teoria Geral) devem ser restritos, o que possibilita à criança de
forma rápida selecionar a gramática adequada aos dados de que dispõe.
(Borges Neto, 2004, p. 115).
Chomsky distingue então o conhecimento das regras, isto é, a
competência e o emprego, a aplicação das regras (desempenho). O
trabalho do linguista consiste, então, em descrever e competência. A
gramática que reúne o conjunto das regras e das instruções explícitas
que permitem gerar, isto é, enumerar, todas as frases gramaticais
possíveis de uma língua é dita gerativa.
Isto porque para Chomsky, as línguas são sistemas biológicos
que os homens usam para falar sobre o mundo, ou seja, a representação
mental que tem do mundo para poder descrevê-lo, referir se a ele,
comunicar-se com os outros, articular pensamentos etc. Chomsky
cria então dois sistemas: sistema conceptual-intencional (meio expressivo)
e o sistema articulatório-perceptual (de natureza sensórioCírculo
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motora, capaz de permitir a produção e a recepção dos sons que
constituem as expressões linguísticas). Ambos devem estar numa interface:
a linguagem humana deve ser capaz de contatar os dois sistemas
que por sua vez são independentes. Com base no pressuposto
forte da realidade psicológica dos mecanismos computacional que já
vinham norteando as análises gerativistas, passam agora a critérios
de condição sobre as estruturas que serão sustentadas pelo desempenho,
pela pragmática e pelo uso que o falante faz. Este desempenho
envolveria os dois sistemas para que possa ter uma estrutura bem
formada gramaticalmente. Então, a garantia agora de uma boa formação
gramatical em enunciados irá depender do grau de satisfação
das condições impostas pelos sistemas externos, ou seja, será mais
aceitável, bem formada e gramatical a estrutura que melhor satisfazer
as condições de produção/recepção fonética e de significação.
Assim, um dos limites do gerativismo está justamente na preocupação
de Chomsky com a competência e considerar o desempenho,
que de certa forma, já vinha fazendo parte dos estudos linguísticos
anteriores em sua dependência de amostras (corpora) de fala (em
forma de coleção de fitas gravadas). Tais amostras certamente eram
inadequadas, pois só podiam oferecer uma fração ínfima (mínima)
dos enunciados que é possível numa língua e também por conter
mudanças de planos e "erros" de desempenho, uma vez que os falantes
usavam suas competências muito além das limitações de qualquer
corpus, pois eram capazes de criar e reconhecer enunciados inéditos
e de identificar erros de desempenho comunicativo. Como se vê, o
objetivo gerativista era a descrição das regras que governavam a estrutura
desta competência, considerando as estruturas bem formadas.
(sentido não se submete a espaços limitados – o sentido é deslizante).
As propostas de Chomsky visavam descobrir as realidades
mentais subjacentes ao modo como as pessoas usam a língua e linguagem.
Assim, a competência é vista como um aspecto da nossa
capacidade psicológica geral (a linguística na perspectiva mentalista).
Uma visão que contrastava com o behaviorismo na primeira metade
de século XX já se defendia que a linguística não deveria se limitar
à descrição da competência. Assim, em longo prazo havia a idéia
de oferecer uma gramática capaz de avaliar a adequação de diferentes
níveis de competência, indo além dos estudos das línguas individuais
para chegar á natureza da linguagem humana como um toCírculo
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do pela descoberta dos universais linguísticos.
Chomsky sintetiza essa idéia no livro Conhecimento de Linguagem
(Knoweledge of Language) (1986) procurando mostrar que
os indivíduos, mesmo com contatos limitados com o mundo são capazes
de conhecer tanto e reproduzir pela linguagem este mundo,
considerando o sistema abstrato e lógico ou ainda com define os estruturalistas
como “a totalidade dos enunciados que podem ser feitos
numa comunidade linguística”. Assim, daria uma contribuição para
nosso entendimento da natureza da mente humana, pois pelo estudo
da faculdade humana da linguagem, deveria ser possível mostrar
como uma pessoa constrói um sistema de conhecimento a partir da
experiência diária, dando assim, um passo na direção do problema.

CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA GERATIVA
PARA A LINGUÍSTICA MODERNA
A teoria gerativa, como as demais teorias, trouxe também suas
contribuições na medida em que percebeu que o estruturalismo americano
baseado na teoria behaviorista do estímulo /resposta era um
equívoco. Ao adotar um outro tipo de psicologia – a gestalt –
Chomsky, de certa forma, dá um passo importante quando reconhece
no falante, (embora idealizado) uma competência. Com isso ele devolve
ao falante o poder de interpretação, compreensão e elaboração
de seus próprios enunciados. Nesse sentido, a gramática de uma língua
não se reduz a uma listagem de enunciados hipoteticamente conhecidos
pelo falante para que ele compreenda a língua. Nesse sentido,
Chomsky introduz o principio da gramática internalizada que será
adota e desenvolvida por varias tendências, principalmente as que
estudam a linguagem em uso. Chomsky parte do pressuposto de que
de posse de um número limitado de palavras o falante, revela seu
“desempenho” por meio da “competência”, construindo e compreendendo
a totalidade da língua. A sua teoria mesmo não dando conta de
resolver os problemas de ambiguidade da língua, traz algumas contribuições,
principalmente para a linguística cognitiva, para a teoria
dos espaços mentais, mas sua maior contribuição diz respeito à sintaxe
da língua na medida em que estabelece um novo modelo de análise
sintática que permite analisar alguns constituintes que o modelo
tradicional não conseguia. Com efeito, Chomsky irá romper com o
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estruturalismo americano em relação à teoria behaviorista, uma vez
que nada nos leva a supor que existe uma teoria da aprendizagem,
não haverá, certamente, razões para crer que existe uma “teoria do
comportamento”. (Chomsky, 1975, p. 26).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Finalmente, poderíamos afirmar que a linguística cognitiva
tem avançado muito nas ultimas décadas, pois, temos hoje, no mundo
grandes expoentes desta vertente linguística, neste sentido,
Chomsky é um de seus precursores. É evidente que seu trabalho procura
estabelecer relações da linguagem com as questões genética da
espécie humana, o que caracteriza certa preferência pelas teorias da
evolução. Para ele a linguagem carrega murmúrios biológicos, na
medida em que na transposição genética de caracteres amplia e define
as estruturas cognitivas dos indivíduos na espécie humana, por isso,
o individuo torna-se possuidor de um potencial sobre o qual se
instaura a competência linguística.
De modo que sua contribuição foi de grande importância para
o aprofundamento dos estudos nesta área do conhecimento. Na verdade,
Chomsky estava mais voltado às questões lógicas da língua,
sua intenção era demonstrar que o indivíduo já nasce dotado de estruturas
mentais que sustentam a competência para o desempenho
linguístico. A sua grande sacada mesmo é a idéia de uma Gramática
Universal a partir da qual, por meio das estruturas cognitivas, os indivíduos
concebem a estrutura da língua (qualquer lingua), desencadeando
o processo de aquisição da linguagem.
Os estudos da linguagem por este prisma ainda parecem enfocar
do inatismo, embora outras vertentes trilhem outros caminhos.
Na verdade a obra de Chomsky, embora tenha sido rotulada de GERATIVISTA,
não se afastou do ESTRUTURALISMO, haja vista o estudo
das estruturas de superfície e Estruturas profundas, ou seja, estudo da
sintaxe e estudo da semântica das línguas. Considerando também o
estudo das estruturas cognitivas do indivíduo o que contribuiu sobremaneira
para o aprofundamento dos estudos da linguagem na década
de 1990 e 2000, levando em conta não apenas as questões de
cognição, mas como se articula o processo interacional nos diálogos
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que se operam entre os indivíduos.

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